12 de dez. de 2016

Um dia depois da festa uma cantiga para não morrer

Hoje estou agradecida! A chuva intermitente umedece a cidade e atrapalha o trânsito. Mas quem mesmo repara pelo avesso a dureza que é sobreviver e atravessar os tempos, sistemas e civilizações que criaram dias úteis e inúteis? Os dias inúteis são os mais preciosos, neles a gente frutifica o melhor de ser gente: a amizade.

Hoje estou agradecida! Uma alegria circula por dentro, pelas minhas veias e como as chuvas da estação se mistura com meu sangue. Um sentimento que pulsando se torna o universo. O universo que cabe na menor partícula dentro da gente.

Hoje estou agradecida pelos presentes que me trouxeram. Foram tantos! Posso sentir o cheiro da palha de ratan na cesta que um vietnamita teceu. Cheiro doce tem o ratan! E saber que as palhas deslizaram talvez, por mãos de uma mulher miúda com mãos calejadas, e que o perfume do ratan flutua sobre uma aldeia longínqua como flutua aqui em minha varanda agora...

Agradecida por poder abrigar dentro dessa cesta de ratan cheirosa as cores vibrantes das linhas de algodão que a amiga Jenny tecia. Linhas impregnadas da amizade que me deixou de herança e que vou tecer meus bordados e em cada ponto uma lembrança das historias que ela viveu e que se confundem e entrelaçam com as minhas.

Agradecida pelas caminhas de cachorro que agora vão abrigar os bichos de rua, pobres e tristes como tanta gente nesse mundão complicado que criamos e tentamos consertar, e que esse amor aos bichos nos une.

Agradecida por se lembrarem de trazer os filmes que queria assistir e perdi. E pelas flores de maio especiais que floresceram em dezembro. Muito agradecida estou, pelos risos de todos vocês – que preciosidade! Por me presentearem e brindarem com comida e bebida farta!

Quanto agradecimento gostaria de fazer a cada uma e a cada um de vocês amigos, que ao longo do tempo construíram com o “ser” especial que cada um é, o meu universo.

Gostaria de ter feito um brinde à nossa amizade! Faço agora!

E para agradecer também ao poeta Ferreira Gullar que recém virou estrela, digo: “A vida é nada sem o outro”. Deixo um poema dele para vocês, meus amigos. Obrigada.

#coisasdeada

Cantiga para não morrer
(Ferreira Gullar)

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa

por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Cesta de ratan e linhas para bordar...

2 comentários:

eusou.doc disse...

Que belezura!!!

Coisas de Ada disse...

😋