22 de nov. de 2009

Carta de Rosa Luxemburg à Sonia Liebknecht escrita da prisão

"Como é estranho eu viver sempre numa alegre embriaguês, sem razão particular. Assim, por exemplo, aqui estou deitada, nesta cela escura, num colchão duro como pedra, enquanto à minha volta, no edifício, reina a habitual paz de cemitério; acreditar-se-ia estar no túmulo; através da janela desenha-se no teto o reflexo do bico de gás ardendo a noite inteira diante, da prisão. 


De tempos em tempos ouve-se o barulho surdo de um trem que passa ao longe ou então, bem perto, sob as minhas janelas, o pigarro da sentinela que, com suas botas pesadas, dá alguns passos lentos para desentorpecer as pernas. A areia estala tão sem esperança sob esses passos, que todo o vazio e a falta de perspectivas da existência ressoam na noite úmida e sombria. 


E aqui estou eu deitada, quieta, sozinha, enrolada nos véus negros das trevas, do tédio, da falta de liberdade, do inverno - e, apesar disso, meu coração bate com uma alegria interior desconhecida, incompreensível, como se, sob um sol radiante, estivesse atravessando um prado em flor. No escuro, sorrio à vida, como se eu conhecesse algum segredo mágico que pune todo o mal e as tristes mentiras, transformando-os em luz intensa e em felicidade. 


E, ao mesmo tempo, procuro uma razão para esta alegria, não encontro nada, e tenho que sorrir novamente - de mim mesma. Acredito que o segredo não é outro senão a própria vida; a profunda escuridão noturna é bela e suave como veludo, basta somente saber olhar. No estalar da areia úmida sob os passos lentos, pesados da sentinela canta também uma bela, uma pequena canção da vida - basta apenas saber ouvir." 


(Rosa, dezembro de 1919)


Rosa Luxemburg, em polaco Róża Luksemburg - nasceu em Zamość, 5 de março de 1871 e morreu em Berlim, 15 de janeiro de 1919, com 48 anos, assassinada pelo exército alemão. Foi uma filósofa marxista e militante revolucionária polaca-alemã que ajudou a fundar o Partido Comunista da Alemanha (KPD). Dentre as barbaridades cometidas pelo homem, está o assassinato de Rosa Luxemburg.

Nenhum comentário: