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2 de abr. de 2023

Para ver nem sempre precisa de olhos


Queixando-se na esquina da montanha que envolve o mar

Espremido pelo peso da nuvem negra de chuva

O olhar tenta descobrir o que vem depois.


Há coisas que não precisam de olhos.

São lembranças...

Há um aprendizado humano que te faz olhar o que vem depois,

sem ver.


O que vem depois é risada nova em alegria antiga.

Ou lágrima quente de um choro chorado mil vezes.

Rir e chorar são espasmos da juventude

São alegrias e tristezas passadas



O olhar apenas lembra o que vem depois da curva daquela montanha.

Depois da enseada, depois da chuva, depois do adeus.

Ou então, esquece...

20 de jan. de 2018

Elenara Stein: Ela toda maresia

Bordado By Ada #coisasdeada Coisas de Ada

ELA TODA POESIA
Elenara Stein

Tinha gosto de mar. 
Ela toda maresia. 
Era daqueles verões de tempo escaldante, 
onde a linha do horizonte se confundia entre começo e fim. 
Como ela que se abria em dores, em rancores, em mal humores.
Nem sempre fora assim. 
Teve um tempo de descobertas. 
Passou. 
Olhou em torno e tudo parecia ter gosto de fermento estragado, 
desses que não vão fazer crescer o pão por mais que se sove. 
Dias ruins estes de sentir o peso do mundo.
O corpo doía, a mente sofria. 
E ela se ria.
Maldito senso de humor! 
Devia ter nascido mais vitoriana. Menos barroca.
Que fosse, enfim. 
Urgia engolir aquelas lágrimas que teimavam em rolar. 
Gosto de sal. 
Menos mal que curtia salgados. 
Imagina se chorasse açúcar...
Pensou em abrir a caixinha nova de pilulas que fazem esquecer mazelas. 
Mas seu lado mais trágico largou o gesto na metade. 
Que fosse até o fim com tudo o que tinha que sair.
Que mergulhasse de vez no oceano que se abria, 
Que afundasse em águas, em sargaços, em conchas e pérolas. 
Que virasse sereia e voltasse ao útero de onde saem todas as mulheres. 
Que partisse. 
Vestiu sua fantasia de luxo. 
Nos olhos pura melancolia. 
Nos lábios um vermelho de corar satanazes. 
Nos pés a areia que machuca. 
Respirou fundo como fazia nos momentos solenes. 
Deixou que o vento percorresse seu corpo como se fosse aquele amor 
que demora e traz saudades. 
Ou como se fosse a vez primeira. 
Ergueu a cabeça e seus passos a guiaram para o mar. 
Ela pura maresia. 
Que houvesse então um tempo de sangria.
Que expurgasse sal, suor e solidão. 
Que irrompesse dela, de dentro dela, cores, cheiros, vontades e desejos. 
Que fosse.
Ela foi.
O mar gelado que era, acordou sua mente. 
Sentiu um raio que vibrava e acordava. 
A areia machucando menos. 
O abismo acolhendo. 
Ela desnascendo. 
O mar. 
Ela. 
O sol. 
A maresia.
Os pés machucados da areia corriam mais firmes. 
As asas cresciam em suas costas como anjos rebeldes 
que despertam de um sono milenar. 
Quanto mais ela afundava, mais alto voava.
Viu o escuro das entranhas. 
Viu o clarão da iluminação. 
Era duas. 
Era múltipla. 
Era toda maresia.

Elenara Stein