14 de fev. de 2012

Sobre Maira e Mairuns

Maíra sempre achou que aquele mundo de nosso criador, o Sem-Nome, não prestava mesmo. Sem querer foi imaginando, inventando, lá no espírito dele, o mundo como devia ser. Um mundo bom para seu povo preferido: os mairuns do Iparanã. Um mundo que desse verdadeiro gozo de viver.

Um dia ele achou que já era hora. Começou os trabalhos de refazer o mundo juntando toda a ente-ambir que existia e dividindo em dois grupos: os de cá e os de lá. Aos de cá mandou fazer uma casona para ser o baito e ensinou ali mesmo como é que se contruia. Quando estava rponta, Maíra entrou lá, sentou-se no chão e foi dando aquelas pancadinhas pra fazer surgir a pica de Deus-Pai. Quando ela subia, ali na frente, bem dura, ele cortava pelo nó de um só golpe, agarrava e pregava entre as pernas dos que estavam ao redor. Acabado o serviço, todos já eram homens com seus rancuãis e saíram para foder com as mulheres, lá fora, pelo páteo, onde quisessem. Foi aquela festa de sururucação.

Maíra, Darcy Ribeiro  - 1976 - Pág 144

Da edição Circulo do Livro

Darcy Ribeiro realizou esta obra em plena maturidade criativa. Começou a escrevê-la no exílio, através de lembranças de sua trajetória no meio dos indígenas, em companhia, inicialmente do general Cândido Rondon, depois como etnólogo, convivendo por muito tempo com várias etnias. Seu romance é narrado em quatro movimentos: Antífona, Homilia, Cânon e Corpus.

Darcy Ribeiro (Montes Claros, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de fevereiro de 1997) foi um antropólogo, escritor e político brasileiro conhecido por seu foco em relação aos índios e à educação no país.


Há um rio, provavelmente o verdadeiro Iparanã, única via de acesso de uma erma região da Amazônia, no Estado do Mato Grosso, à margem do qual, em certo trecho, vivem os Mairuns.

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