Dona Nadir |
Meu coração me diz que quando perder minha mãe, sentirei algo desconhecido até então. Será uma dor nova, nunca percebida
antes. Porque as dores e as alegrias são sempre novas, cada uma a seu tempo. Minha mãezinha, com todas as suas qualidades e defeitos que nos tornaram críticas uma da outra, vai completando 82 anos. É o fio da vida que se estica, vão restando poucos
metros... Percebo que o amor que sinto por ela vai se fortalecendo para além do forte, vai aumentando para além do maior, vai tornando-a isenta de todas as nossas desafinidades e diferenças, vou aceitando-a como
ela é e ela vai tornando-se imprescindível. Minha mãe vai se tornando plena, inteira, insubstituível. E sua ausência - quando lembro que será inevitável - se tornará um quebra-cabeças faltando a peça principal e ficará incompleto para sempre.
Vai doer muito ter a certeza de que ninguém mais na vida irá me amar com a
intensidade do amor que ela me dedicou a vida toda. Nos meus momentos de crise, nas minhas ausências e incompreensões, nos dias que me tornei distante e a magoei, desde o meu primeiro choro de fome, ou nos momentos de alegria compartilhada, desde qualquer
alegria boba a todas as alegrias, descobrirei que era feliz por ela existir. E engolirei as ofensas que lhe ofereci e as tristezas que lhe causei, porque elas se tornarão insensatas. E as críticas que fiz a ela diversas vezes, se voltarão, desde já, contra mim, porque é assim que
a vida segue, em ciclos que se repetem... Mãe, a gente vê isso só no fim... (Ada, 12/5/2013)
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