20 de mai. de 2013

Tempo perdido

O tempo passa incólume pelos meus olhos, impregnado que está nas ruas que me levam para casa, todos os dias. Nem se apercebe de mim a espreitá-lo tristemente pela janela suja do metro, e depois do ônibus, e depois nos passos ritmados, e nos prédios velozes que brotam pichados ao fim dos túneis, nas pessoas aglomeradas no ponto de ônibus, ou apressadas cruzando buracos pelas calçadas, nos lixos em montanhas pelas esquinas mal iluminadas da periferia, nos bares barulhentos, nas favelas à beira do rio. Sigo meu caminho incapaz de reagir aos maus tratos que esse tempo causou à vida, e eles se acercam de mim, nos rostos, nos olhos e falas compactas, indecifráveis. Nos odores diversos que se revezam pelo caminho, nas luzes amarelas e nas notícias dos jornais. É tudo tão pisado, usado, repetidamente depredado... Preciso um respiro fundo. Nem sei de onde vem esse ar abarrotado há séculos dentro do peito. A vida toda passa nessa única hora que me leva para casa, todos os dias [como a triste canção de um filme] e são horas multiplicadas aos dias, e os dias multiplicados aos anos, e ao fio dessa vida, e desde quando eu nem haveria de existir. O tempo perdeu a conta, mas lá se foi mais um dia na dívida que ele tem comigo e com a humanidade. (Ada, 20/5/2013)

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