11 de set. de 2013

A casa destruída

A casa estava destruída. O telhado tinha uma fileira inteira sem telhas, e por estar sem forro era possível ver o céu.

_ A casa é nossa, temos que conservá-la! Vamos consertar isso! Disse eu.

Pensei em oferecer ajuda financeira para realizar os consertos. Ficou apenas em pensamento. Desisti de oferecer ajuda, um sentimento de não reconhecimento me tirava o ímpeto de generosidade que sempre transbordava.

Parecia que ninguém me ouvia, não prestavam atenção, ou então, o que dizia não era importante, significativo. Todos davam as costas, ocupados com alguma coisa: uma era minha mãe e outras pessoas que não reconheci.

No quarto haviam três camas, arrumadas com lençóis brancos, dispostas em ângulos uma em cada parede. Havia limpeza, apesar da simplicidade. Precisávamos encontrar espaço para mais uma cama, a do irmão. Debaixo da escada parecia perfeito, havia um corredor espaçoso e cabia bem mais uma cama. E ali foi colocada, com a concordância do irmão. Quebrou-se apenas uma mureta que impedia o perfeito encaixe da cama, e pronto.

Na cozinha, a avó pendurava as panelas em pregos esparsos pelas paredes mal pintadas, que lembravam um tom de azul desbotado, descascado. Não havia armários e isso me comovia, pensei em quanta humildade havia naquela casa, toda simples, mal arrumada. A avó, enxugando as panelas, sorria e dava de ombros. Não era o seu rosto, usava óculos? Mal penteada? Mas sabia que era ela, com avental enxugando e pendurando os caldeirões de alumínio nos pregos. 

Subitamente olhou para mim e sorriu. Parecia feliz, tentando me sossegar. Disse para não me importar com essas coisas, sacudiu um pouco os ombros tentando demover-me da preocupação com a casa, uma espécie de “deixa prá lá” ou “isso não é importante”, e que não tinha problema a casa ser assim toda quebrada, mal arrumada. 

Ela se foi cozinha adentro e fiquei só, refletindo. Acho que foi aí que acordei. A sensação de que foi real, ficou intensa o dia todo. (Ada, 11/9/13)

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