20 de nov. de 2017

Zacimba Gaba – Princesa, Escrava e Guerreira



Zacimba Gaba – Princesa, Escrava e Guerreira
Por Maciel de Aguiar*

Há cerca de trezentos anos, o fazendeiro português José Trancoso arrematava, no Porto da Aldeia de São Matheus, na Capitania do Espírito Santo, “com cerca de mais de uma dúzia de negros d’Angola”, uma “negrinha de feições finas e olhos esfumaçantes”, sem imaginar, por certo, que estava levando para a sua fazenda – uma sesmaria de terras que ultrapassava o rio Mucuri, “há umas seis léguas para o norte” – a “negrinha” que iria ser uma das precursoras nas lutas dos negros contra o regime de escravidão na região.

A Aldeia de São Matheus, já nessa época, atraía os habitantes das mais variadas regiões do Brasil, distantes ou não de seu porto de “próspero comércio de escravos d’Angola”, e, como tal, seus limites ao norte, com a Capitania de Porto Seguro, iam até o rio Mucuri – maior acidente geográfico entre as duas Capitanias. Constantemente, fazendeiros ultrapassavam esses limites estendendo seus domínios até o Vale do Cricaré, cujo rio de águas mansas e esverdeadas se enrosca como uma serpente nas encostas de barrancas que produzem uma liga que o gentio transformava em tinta para adornos, tendo, mais tarde, o colonizador utilizando-a, também, na pintura de suas casas.

Nesse universo selvagem e fascinante, estabelecer-se como um próspero fazendeiro requeria demonstração de poder e prosperidade, o que só seria medido com “um razoável número de escravos”. O então fazendeiro José Trancoso, já devidamente incorporado aos seus novos domínios, visto que havia ultrapassado suas fronteiras sem ser molestado, “abriu uma picada de umas vinte mil braças às margens do rio Itaúnas”, onde assentou sua fazenda com cerca de uma centena de escravos e aquela negrinha que todos os pretos chamavam de princesa”.

Era o ano de 1690, e, há muito, na Serra da Barriga, nas Alagoas, os negros haviam se aquilombado, transformando o que era conhecido como Quilombo dos Palmares no mais importante centro de resistência contra o sistema escravocrata. As lutas para a sua destruição eram, sistematicamente, vencidas pelos negros amotinados, o que fizera outros focos de resistência pelo interior do país.

Durante anos, a “negrinha de feições finas e olhos esfumaçantes” foi levada – por sua natureza rebelde – aos mais humilhantes e infames castigos, tendo sido surrada no Largo do Chafariz, no Porto, “com outros escravos recapturados”, provavelmente, por não aceitar, de bons modos, atender aos desejos do fazendeiro. Contava o mestre Balduíno Antônio dos Santos, que “certa feita ela foi arrastada da senzala até à Casa Grande, onde foi interrogada pelo senhor”, que queria saber se era verdade “o boato que se espalhava por todos os lugares” de que ela “era uma princesa”. 

Durante “muitos dias e muitas noites os negros choravam” ao ouvirem seus gritos, entrecortados pelos “baques da chibata no corpo”. O mestre pára por um instante, compenetrado, como a buscar reminiscências tão antigas quanto sua vida centenária, “meu avô contava que ela foi desonrada pelo senhor, depois de confessar sua verdadeira identidade: Zacimba Gaba, princesa da nação de Cabinda…”

Encrava na baía do mesmo nome, na costa oeste da África, em Angola, Cabinda teve sua população quase que dizimada, com seus homens e jovens aprisionados e mandados como escravos para o Brasil, durante duzentos anos. O fazendeiro, sabendo que os seus escravos, em grande maioria, eram oriundos de Angola, e que poderiam invadir a Casa Grande para libertá-la, passou os avisar que, se alguma coisa acontecesse a ele ou à sua família, “Zacimba seria morta”. Na senzala os negros tramavam uma invasão à Casa Grande, mas com a ameaça do fazendeiro “logo recuaram”. Segundo o mestre Balduíno, “era mais importante a vida da princesa do que a dele e de sua família”.

No decorrer do tempo, a jovem princesa, aprisionada na Casa Grande, sob ameaça permanente, castigos e sendo “violentada ora pelo fazendeiro ora pelo capataz”, crescia e tomava coragem para enfrentar, “sozinha, o senhor”. Havia ela proibido que os negros tentassem libertá-la e passou a elaborar planos “de fuga e de vingança”. Não obstante, longe dos negros, Zacimba “também sofria ao ouvir os lamentos de seu povo sendo cortado no chicote, amarrado no tronco e levado aos ferros”, durante os anos que se passaram. 

As noites na Casa Grande, onde era prisioneira, fizeram de Zacimba uma mulher madura, que aprendera a resistir aos mais degradantes castigos, e “vez por outra, os negros na senzala pareciam hipnotizados com o seu canto chamando a proteção dos deuses africanos, na claridade da lua grande”. Ali ela preparava sua alma de guerreira que, mais cedo ou mais tarde, iria pôr à prova. Tinha de ter tranquilidade para vencer as dificuldades e preparar seu corpo para as lutas, impedindo, ainda, que os escravos cometessem atos que pudessem colocar em risco suas vidas.

Uma das armas mais poderosas e silenciosas que os escravos usavam contra os senhores ou feitores que lhes impunham castigos desumanos e humilhantes era o envenenamento. Na grande maioria dos casos, isso era feito em pequenas doses ao longo dos anos. Registrou José Alípio Goulart, em seu Da Fuga ao Suicídio (Editora Conquista, Rio, 1972), que “o famoso quebranto – lassidão, desânimo, astenia – que, com muita frequência, verificava-se entre os senhores de escravos, era resultante, na maioria dos casos, da administração de venenos em pequenas doses”.

Um dos venenos mais utilizados na região de São Mateus e Conceição da Barra era extraído da cabeça da “Preguiçosa”, uma cobra temida pelo seu veneno mortal, característica do Vale do Cricaré. Pegavam a cobra, preferencialmente viva, e cortavam-lhe a cabeça, sem extrair o veneno. Em seguida, era a cabeça torrada e moída até produzir um pó “bem fino” que “era misturado no dicumê do sinhô até sua morte”, dizia o mestre Balduíno, afirmando que “num havia dotô que desse jeito no desinfeliz…”

Nas fazendas, as senzalas preparavam, às escondidas, o “pó para amansar o sinhô”, que chegava até à Casa Grande pelas mucamas, onde era administrado “com muito cuidado e zelo”, em pequenas doses. Se o senhor desconfiasse e mandasse um escravo “cumê da sua comida, o escravo podia engolir sem medo, pois o veneno só fazia efeito se fosse dado muitas vezes”. O senhor, com isso, jamais poderia imaginar que estava sendo envenenado, mas, ao longo do tempo, era fatal: “berrava feito boi, sangrando pelo nariz, ouvidos, unhas e pé de cabelo”, disse Balduíno.

E foi, provavelmente, através de um desses métodos que Zacimba preparou a sua liberdade, esperando longo tempo para livrar-se dos constantes castigos e humilhações que se seguiram enquanto administrava o veneno “em pequenas doses”, esperando, pacientemente, a hora mortal.

Uma noite, o fazendeiro passou a gritar, o que para seus familiares e feitores era uma surpresa, para os negros, na senzala, era o sinal que se esperava. Zacimba, por certo, sabia que ele já não tinha salvação e logo procurou acalmar os escravos. “Ninguém poderia imaginar que o sinhô tava envenenado”. Enquanto isso, na Casa Grande, procuravam-se todos os antídotos que pudessem fazer parar as dores do fazendeiro, mas nada era possível. “Quando o sangue começou a brotar foi dado o alarme: Zé Trancoso tá envenenado”. Era a hora da reação dos negros. “O rebuliço dos homens de confiança do fazendeiro já era grande”. Todos já sabiam que ele havia sido envenenado e que “era só esperar a hora para jogar o corpo na cova”, garantiu o mestre Balduíno.

Quando a notícia parecia haver vencido a todos, “o homem já tava estrebuchando”, foi a hora decisiva para Zacimba livrar-se da prisão e, já de “facão em punho”, comandou a revolta dos escravos contra todos os anos de humilhação e sofrimento. No ânimo dos capatazes, em defesa da família do fazendeiro, prevalecia a fidelidade ao senhor, no dos escravos a vingança e a libertação na luta que explodiu “cruel e sangrenta”.

A Casa Grande foi “lavada por um banho de sangue” e, segundo o mestre Balduíno, “enquanto a família do fazendeiro foi livrada não sobrou um homem de confiança do sinhô para contar a história”. Em seguida, Zacimba “caiu na mata virgem, levando os negros libertos”, para a formação de um quilombo às margens do Riacho Doce, nas proximidades do que é hoje o povoado da Vila de Itaúnas, em Conceição da Barra, no extremo norte do Espírito Santo. O Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, já havia sido destruído em 1695, e muitos negros fugiram para o sul, provavelmente trazidos pelas notícias da existência de outros quilombos que se formavam, dentre eles o de Zacimba Gaba, de onde a princesa comandava as lutas que se travaram pela libertação de seu povo.

Durante aproximadamente uma década, ela transformou o local em área segura, onde os negros, principalmente os oriundos d’Angola, fugidos ou libertados das grandes fazendas, podiam viver em liberdade. Como princesa e guerreira, Zacimba sabia que seu povo estava sendo trazido dentro dos navios para ser vendido como escravo no Brasil e, nas imediações, para a beira da praia, onde existe um platô de uns vinte metros de elevação acima do nível do mar, ela montou com seus súditos um estratégico ponto de observação das embarcações que navegavam pela costa, entre as capitanias de Porto Seguro e do Espírito Santo, levando escravos acorrentados em longas viagens de quarenta a cinquenta dias, quando muitos não resistiam aos maus tratos e morriam de fome, frio e banzo. Esses negros, em sua maioria angolanos, eram vendidos nos portos, como no da Aldeia de São Matheus, aos fazendeiros. A estratégia de Zacimba era a de libertá-los ainda em alto mar, antes de chegar ao porto e serem levados para as fazendas, o que dificultaria as ações.

Conta a lenda em torno de sua existência que “dentro de pequenas canoas”, Zacimba e seus guerreiros se aproximavam das embarcações negreiras, sempre à noite, e tomavam-nas de assalto, dominando seus tripulantes e libertando os negros, que vinham “principalmente d’Angola”. Muitos não conseguiam chegar com vida em terra firme, outros eram encontrados mortos e atados às correntes, mas as suas ações culminavam “sempre com muitos negros que ganhavam a liberdade depois de muitos dias de viagens sem saber para onde eram levados”.

Era, realmente, muito grande, desde meados do século XVII, o comércio marítimo de escravos trazidos de Angola, na África, tanto que, já em 1624, quando os holandeses dominaram a Bahia, detento os navios negreiros no porto, o registro feito pela Companhia das Índias Ocidentais, de Joannes de Laet, relacionou, como bens apreendidos, vários navios carregados de escravos: “Huma barca com 250 negros de Angola, hum navio de Angola com 300 negros, hum de Angola com 200 negros, hum navio de Angola com 280 negros, hum navio de Angola com 450 negros, hum navio de Angola com 230 negros”. Portanto, todos os negros que estavam nos navios no porto da Bahia eram oriundos de Angola, na África.

No decorrer dos anos, cada vez mais os negociantes e escravos preferiam os negros d’Angola, vendo o seu mercado “promissor e lucrativo”, até que, aproximadamente em 1700, surgiram ataques aos navios negreiros “comandados por uma negra com uma tiara na cabeça, a quem eles atribuíram ser uma princesa d’Angola”, registrou Manoel Antônio de Oliveira.

Mesmo com essa ameaça as viagens da Bahia para o sul eram compensadoras para os comerciantes de escravos em virtude de seus objetivos de lucros, cada vez maiores, serem alcançados. A partir dessa preferência pelos angolanos, não seria tão impossível – dentre os milhares de escravos oriundos daquela região africana – encontrar-se uma princesa. E ela, consciente de sua condição e importância, sentiu-se no dever de adotar uma postura contrária aos castigos e àquela preferência por escravos de sua nação. O fato dos negros angolanos serem os preferidos pelo sistema escravocrata brasileiro fez com que Antonil, em 1711, registrasse: “Os negros que vêm para o Brasil são Ardas, Minas, Congos, de S. Tomé, d’Angola, Cabo Verde e alguns Moçambiques que vêm nas naus da Índia.

Os Ardas e os Minas são robustos. Os de Cabo Verde e S. Tomé são mais fracos. Os d’Angola, criados em Loanda, são os mais capazes de aprender ofícios mecânicos que os das outras partes nomeadas”. Há ainda a registrar que as regiões onde os comerciantes e mercadores de escravos mais desenvolviam suas atividades de lucro eram compreendidas entre os portos da Bahia e o porto de Santos, destacando-se entre esses o Porto de São Matheus.

H. Watjen, em O Domínio Holandês no Brasil – tradução de P.C. Uchôa Cavalcanti -, registrou, ainda, ser “o negro da Guiné, rixoso, cabeçudo, preguiçoso, difícil de se acostumar à obediência e no trabalho, enquanto os oriundos d’Angola revelavam muita disposição para o trabalho e podiam, facilmente, ser ensinados pelos escravos antigos, gozando de particular preferência”.

Por estar na rota do grande comércio de escravos, o Porto de São Matheus não podia ser desprezado, sobretudo pelo grande número de fazendeiros oriundos da Bahia, “representantes de famílias tradicionais que assentaram vivência na Aldeia de São Matheus em função de sua prosperidade”. Tal fato fez com que, em 15 de setembro de 1764, o então Ouvidor da Capitania de Porto Seguro, Tomé Couseiro de Abreu, transpondo os limites com a Capitania do Espírito Santo, elevasse a Aldeia de São Matheus à categoria de Vila, com o nome de Villa Nova de São Matheus, baseando-se na Carta Régia de 14 de abril de 1755, pela qual o Capitão do Pará, Francisco Xavier de Mendonça, instalou a Capitania de São José do Rio Negro. Tal gesto do Ouvidor foi levado por forte predomínio baiano na Aldeia em função da “fertilidade das terras, da abundância da madeira de lei e do grande contingente de escravos adquiridos no porto da Bahia e trazidos de barcos para a Aldeia de São Matheus”.

O início do século XVIII encontrou uma expressiva resistência por parte dos negros, que se rebelaram em toda a parte do território. Zacimba, que havia, “ainda mocinha”, cruzado o Atlântico naquelas precárias embarcações que traziam até 500 escravos, sabia muito bem o que devia representar a liberdade para o seu povo, “depois de quarenta dias e quarenta noites enfrentando chuva, fome e frio nos porões superlotados de gentes numa viagem sem volta”, afirmava Balduíno Antônio dos Santos.

Zacimba passou a intensificar os planos de saque aos navios e embarcações que traziam escravos para o Porto de São Matheus: “Libertar os negros, ainda nos navios, antes de chegar em terra firme”, lembrava o Mestre Balduíno, “era uma idéia arriscada, mas que podia trazer vitória”. Somente alguém com muita coragem seria capaz de tamanha ousadia e, durante várias ações bem sucedidas, Zacimba “teve a certeza de que estava no caminho certo”. Atacava sempre à noite, de surpresa, sem que fosse possível à tripulação oferecer resistência.

E aquela princesa, que parecia frágil, incorporava, definitivamente, a figura de grande guerreira, e de facão em punho “surgia na lâmina d’água, como a andar pelas ondas do mar”, comandando as pequenas canoas e atacando as embarcações negreiras pelos flancos, “como um raio na escuridão” lembrava o mestre.

Temendo os prejuízos, os mercadores de escravos, por muito tempo, evitaram o comércio de transporte próximo à costa nessa região, “principalmente entre as embocaduras do Mucuri e do Cricaré”, onde Zacimba e seus guerreiros haviam saqueado inúmeras embarcações e libertado muitos negros que vinham acorrentados para serem vendidos. Conta a lenda colhida da boca do povo, de invejável memória, que, “certa feita, surgiram no mar, próximo à embocadura do rio Itaúnas, duas embarcações com sinais visíveis de que traziam escravos”, provavelmente para serem vendidos no Porto de São Matheus. “Há umas mil braças do mar adentro, avistavam-se as velas dos navios”.

Prepararam-se as canoas e esperou-se o anoitecer para irem ao encontro do inimigo. Os músculos salientes e fortes dos negros brilhavam ao reflexo do clarão da lua grande, “dessas noites pra gente ficar olhando as estrelas”, e de suas mãos ágeis os remos faziam as pequenas canoas flutuarem no ritmo acelerado, mar adentro. A rapidez dos movimentos e a destreza dos guerreiros davam a entender, que, mais uma vez, sairiam vitoriosos.

Zacimba, princesa libertária, à frente daquela legião de negros livres, buscava a liberdade para os que foram arrancados de sua terra distante. “Cercaram o primeiro navio, que não ofereceu resistência”, subiram pelos flancos, mas foram surpreendidos pela tripulação “fortemente armada, de mosquetão e clavinote, tendo ainda, o outro navio a atacar os que estavam no mar. Foi luta encarniçada, de que só o mar é testemunha…”

Assim, Zacimba Gaba, princesa guerreira d’Angola, que soube esperar toda a sua juventude para livrar-se do seu senhor, liderou seu povo contra as atrocidades a que era submetido. Possuída por uma coragem singular, terminou a vida de lutas, heroicamente, “como um raio na escuridão”.

A última vez em que vi o mestre Balduíno Antônio dos Santos o encontrei sentado numa balaustrada do Mercado, no Largo do Chafariz, no Sítio Histórico do Porto de São Mateus. Falava compassadamente, sempre com os olhos marejando em direção à curva do rio, como a esperar alguém que nunca vinha. Curioso, fui logo puxando conversa: “Só sei estórias de negros, lutas contra os capitães-do-mato, na mata virgem, estórias de gente valente que adubou a terra pra um dia nossos netos andar em liberdade…”, replicou ele.

Os lábios trêmulos iam deixando fluir com precisão o que os seus antepassados contaram no longe dos anos que se passaram. – E Zacimba Gaba?, perguntei-lhe.

O mestre Balduíno olhou-me nos olhos, com os seus belos olhos negros marejando, e por uma eternidade hipnotizou-me com suas palavras: – “Morreu na luta, encarniçada, enfrentando o estanho com o seu facão, como deveria ser…”

As mais longas horas de aventura se passaram, depois, pigarreou e cuspiu no canto do pilar. Olhou a tarde sobre o Vale do Cricaré, de um vermelho fechado que manchava de sangue o firmamento.

Já era hora de ir embora e, com passos lentos, arrastando as alpercatas de couro batido, atravessou o Largo do Chafariz, respondeu ao pedido de bênção de algumas “moças-damas” que se debruçavam nas janelas dos velhos sobradões e ganhou o Beco dos Meninos, perdendo-se entre as casas de antanho. Acompanhei-o com os olhos até perdê-lo de vista, naquele final de tarde de dezembro de 1968.

Voltei ao Porto por várias vezes naquele resto de ano e nunca mais o vi, mas ficaram na memória da infância perdida suas últimas palavras, como uma premonição:

- “Se Deus tivesse me dado outra filha mulher, colocaria seu nome. Nome bonito, de princesa, que lutou por nossa liberdade e foi levada de volta pra África, pelas ondas da imensidão do mar: Zacimba, Zacimba Gaba…”, repetiu.
Autor: Maciel de Aguiar

Dedicação do Autor: À Zacimba Gabriela Maciel Bastos de Aguiar minha filha, para que possa conhecer um pouco de coragem e da história de lutas de uma princesa que lhe emprestou o nome

Fonte: http://www.morrodomoreno.com.br/

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