uol.noticias |
Um antepassado longínquo aflorou, ele conhecia bem as intempéries, com elas teve que lutar para sobreviver todos esses milênios de evolução. Esse antepassado, de geração em geração, foi repassando o aprendizado e agora essa memória bole no meu estômago...
Um arrepio roçou a espinha. A eletricidade trincava o céu atrás de mim, e choviam folhas de outono desesperadas pelo asfalto, concorrendo comigo o espaço adiante... e adiante fui seguindo com elas, sobre elas, além delas, e mais apressadamente a sensação de que precisava fugir do mau presságio que as tempestades sugerem. A sensação nítida de correr do inimigo era a claridão à frente e a escuridão atrás. Estava perdendo terreno.
As árvores do caminho, açoitadas pela ventania, avisavam que o vento avançava à minha frente, ultrapassando-me. Incapazes de segurar suas folhas, já mortas pela estação, elas sucumbiam ao previsível aguaceiro. Em breve a escuridão me alcançaria. Me cobriria de noite fria. Não é medo, ou é medo. É uma precaução. É um cuidado. São lembranças de que morrem gentes, soterram-se em lama, afogam-se em rios, assolam-se casas... Quase perdi minha filha no terceiro mês de gravidez, porque descalça e molhada, tomei um forte choque dum raio que esturricou uma copada árvore "chapéu de sol", na praia, bem à minha frente.
Mas hoje, cheguei sã e salva, com alguns pingos pingados me molhando as costas e tiritando de um baita frio pairado pela cidade. Saberei depois, quando sair da toca, se minha saga se justificou ou se foi tempestade em copo d´água. (Ada 23/4/2009)
Nenhum comentário:
Postar um comentário