23 de abr. de 2009

Tempestade e fuga, desde a antiguidade

uol.noticias
Saindo às ruas hoje me deparei com um céu cinzazul-chumbo-pesado-opressor, refletido no retrovisor do carro. À frente, um céu claro e reflexos do ainda calor. Me senti ameaçada pela onda fria que vinha do sul, atrás de mim. 

Um antepassado longínquo aflorou, ele conhecia bem as intempéries, com elas teve que lutar para sobreviver todos esses milênios de evolução. Esse antepassado, de geração em geração, foi repassando o aprendizado e agora essa memória bole no meu estômago... 

Um arrepio roçou a espinha. A eletricidade trincava o céu atrás de mim, e choviam folhas de outono desesperadas pelo asfalto, concorrendo comigo o espaço adiante... e adiante fui seguindo com elas, sobre elas, além delas, e mais apressadamente a sensação de que precisava fugir do mau presságio que as tempestades sugerem. A sensação nítida de correr do inimigo era a claridão à frente e a escuridão atrás. Estava perdendo terreno. 

As árvores do caminho, açoitadas pela ventania, avisavam que o vento avançava à minha frente, ultrapassando-me. Incapazes de segurar suas folhas, já mortas pela estação, elas sucumbiam ao previsível aguaceiro. Em breve a escuridão me alcançaria. Me cobriria de noite fria. Não é medo, ou é medo. É uma precaução. É um cuidado. São lembranças de que morrem gentes, soterram-se em lama, afogam-se em rios, assolam-se casas... Quase perdi minha filha no terceiro mês de gravidez, porque descalça e molhada, tomei um forte choque dum raio que esturricou uma copada árvore "chapéu de sol", na praia, bem à minha frente. 

Mas hoje, cheguei sã e salva, com alguns pingos pingados me molhando as costas e tiritando de um baita frio pairado pela cidade. Saberei depois, quando sair da toca, se minha saga se justificou ou se foi tempestade em copo d´água. (Ada 23/4/2009)

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