22 de mai. de 2010

A mulher quer tirar ou colocar a tal roupa?

Incongruência. O debate em torno da proibição do véu islâmico, a tal burca, estende-se por diversos países da Europa.

Na Bélgica, o Parlamento vota a lei que proíbe o uso do véu islâmico integral em locais públicos.

Na França, se o Parlamento aprovar, a burca e o niqab serão proibidos a partir do começo de 2011. Nesta França, as mulheres que usarem a vestimenta poderão ser multadas em 150 euros.  Na mesma França, os homens que obrigarem suas esposas a vestirem a burca podem pegar um ano de cadeia e ter de pagar uma multa de 15 mil euros.

Na Holanda, Geert Wilders, político populista de direita, pede uma proibição ainda mais forte contra o uso da burca e o prefeito social-democrata de Amsterdã, Job Cohen, já solicitou o cancelamento do auxílio-desemprego de mulheres que usam burca se elas recusarem um trabalho onde a vestimenta não seja permitida.

Na Itália, já existe desde 1975 uma regulamentação para a "proteção da ordem pública" em que a proibição de cobrir a cabeça em estabelecimentos públicos vale tanto para capacetes como para véus.

Na Austria, a proibição da burca também deve ser levada ao Parlamento pelo partido populista de direita BZÖ.

Na Dinamarca, o governo, formado por conservadores e liberais, não têm uma opinião uniforme, mas em janeiro anunciou "lutar" contra o uso da vestimenta.

No Reino Unido o tema não está em discussão. Apenas a extrema direita exige a proibição da burca.

No Conselho da Europa, Thomas Hammarberg, comissário de Direitos Humanos alerta que a proibição da burca aumentaria a tensão entre as comunidades religiosas.

Mas vejam só: segundo a UPI - União Parlamentar Internacional - a representação feminina nos parlamentos nacionais (unicamerais ou câmaras baixas) mundialmente é de apenas 17,7%.  Portanto, a maioria masculina, 82,3 %, que compõe o parlamento no mundo é quem decide a roupa que a mulher do Afeganistão deve usar na Europa. Assim como os homens do Afeganistão decidiram que as suas mulheres devem usar a burca em seu país.

O debate corre solto entre os homens, os parlamentares de extrema direita, de direita, entre os conservadores, sociais-democratas e liberais, entre religiões, alcorões e machões de dentro e de fora de seus países.

Sobraria a simples pergunta: Alguém perguntou se a mulher afegã quer colocar ou tirar a tal roupa?


Dados interessantes

DEPUTADAS
As mulheres ocupam apenas 17,9% das cadeiras parlamentares no mundo.
Na Suíça, esta proporção é de 28,5%, em Portugal, 28,3%.
No Brasil, 46 das 513 cadeiras na Câmara são ocupadas por mulheres.
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MINISTRAS
1.022 mulheres ocupam postos ministeriais em 185 países.
Na Suíça, três das quatro pastas do Conselho Federal (Executivo) são comandadas por mulheres.
Em Portugal, duas das 16 pastas.
No Brasil, elas só mandam em 3 dos 35 ministérios. 
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Vergonhosa é a situação do Brasil no ranking sobre a participação das mulheres nos Parlamentos em 192 países do mundo. A maior democracia da América do Sul ocupa o 146° lugar, tendo apenas 46 mulheres entre os seus 513 deputados federais – ou seja 9%.
Aqui o problema não é a roupa, será o direito ao aborto.
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A realização da democracia pressupõe uma verdadeira parceria entre homens e mulheres a boa conduta dos negócios públicos, de modo que ambos, homens e mulheres, ajam em condições de igualdade e complementaridade, na obtenção de um enriquecimento a partir de suas diferenças mútuas.Declaração Universal sobre Democracia, 1997, Princípio 4
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LINKS INTERESSANTE
União Parlamentar Internacional: Mapa das Mulheres na Política 2008 (PDF em espanhol)

Fonte swissinfo.ch e deustche welle

2 comentários:

Helerna-SP disse...

Querida Ada

Creio que cada qual deve optar pelo uso da indumentária que desejar. Evidentemente, as mulheres (e homens) ao redor do mundo, que se sentirem oprimidas pelo uso da burca ou quaisquer outros ornamentos impostos cultural ou religiosamente, devem lutar pelo seu direito de renunciar ao uso.
Mas, por outro lado, recordo-me de estar traduzindo uma palestra na UBM, dada pela dirigente de uma federação de mulheres de um país muçulmano que, no debate final, foi indagada sobre o uso da burca, partindo do princípio de que era castrador e machista. Ela, que estava trajada com um 'tailleur' bem ocidental e 'pasteurizado', respondeu que se tratava de uma questão mais cultural que religiosa e deveria ser respeitada e compreendida. Considerou que, no ponto de vista cultural dela, as mulheres nas praias brasileiras com biquínis minúsculos, pareciam mercadorias expostas à visitação pública e objeto de desejo, não seres humanos, portanto tão ou mais oprimidas do que as mulheres absolutamente cobertas de seu país, que ao menos eram preservadas em sua privacidade e protegidas do apelo sexual doentio. Entretanto, compreendia que se tratava de um fator cultural de um país laico

Helerna-SP disse...

Querida Ada

Creio que cada qual deve optar pelo uso da indumentária que desejar. Evidentemente, as mulheres (e homens) ao redor do mundo, que se sentirem oprimidas pelo uso da burca ou quaisquer outros ornamentos impostos cultural ou religiosamente, devem lutar pelo seu direito de renunciar ao uso.
Mas, por outro lado, recordo-me de estar traduzindo uma palestra na UBM, dada pela dirigente de uma federação de mulheres de um país muçulmano que, no debate final, foi indagada sobre o uso da burca, partindo do princípio de que era castrador e machista. Ela, que estava trajada com um 'tailleur' bem ocidental e 'pasteurizado', respondeu que se tratava de uma questão mais cultural que religiosa e deveria ser respeitada e compreendida. Considerou que, no ponto de vista cultural dela, as mulheres nas praias brasileiras com biquínis minúsculos, pareciam mercadorias expostas à visitação pública e objeto de desejo, não seres humanos, portanto tão ou mais oprimidas do que as mulheres absolutamente cobertas de seu país, que ao menos eram preservadas em sua privacidade e protegidas do apelo sexual doentio. Entretanto, compreendia que se tratava de um fator cultural de um país laico