Nas andanças pelo centro de Sampa, me deparei com esta intrigante árvore. Com sua idade, que não deve ser pouca, ela foi cicatrizando as podas doloridas em seus braços-galhos, que desde jovem enfrentam a moto serra, impiedosamente domando-a para o espaço urbano. Antes, deveria ter um gramado extenso e amplo para nutrir-se e hoje, restringiram-lhe a um cercadinho de arames, ilhada entre cimento, fumaça e transeuntes. A cicatriz, a mais dolorida talvez, mostra um coração, uma boca arreganhada, uma garganta rouca, uma voz mouca, um grito deslocado através dos tempos. Interprete! Sinta! É como se sua alma transpirasse pelas fendas, contando mazelas deste mundo, rogando vida para quem a nota. Exclamei, assim que bati os olhos nela. Depois senti seu hálito verde, sua energia, seu gemido, sua resignação. Beberia sua seiva se ainda estivesse escorrendo. Como se isso pudesse curá-la, curar-me. Meu coração entrou no seu. Amiga, roubei sua imagem desoladora para poder compartilhar seu grito. Resista!
Um comentário:
Isto é que é observar a cidade e com toda sensibilidade possível. Poucos param, olham e sentem a poesia dolorida existente no ar.
Elenice Salla
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