23 de jul. de 2011

Cris Cervo: Adão, um pacato cidadão

Adão, um pacato cidadão
(Cris Cervo)

Feliz foi Adão,
Que não teve sogra, nem caminhão,
Não precisou abrir crediário,
Para comprar à prestação.

O teto do seu paraíso,
Era a imensidão do céu,
Jamais usou camisinha,
Nem gravata, nem chapéu.

E apesar de ter doado
Um pedaço de costela,
Jamais adoeceu de dengue,
E sequer febre amarela.

Adão não conheceu maçarico,
Furadeira, chave de fenda,
Não enfrentou fila na receita,
Para declarar imposto de renda

Nunca se submeteu a um DNA
Para contestar paternidade,
Jamais recolheu o IPVA
Nem foi multado por
excesso de velocidade.

Adão não precisou pagar dízimo,
Ou dar gorjeta aos anjos,
Não conheceu salário mínimo,
Nem praticava suborno
Adão nunca quis trair
E jamais mereceu ser corno

Adão não tinha RG,
Carteira profissional,
Não assistia na TV
Ao horário eleitoral.

Adão não cursou escola pública,
Não conheceu a corrupção,
Nunca quis ser candidato,
Nem puxa-saco de patrão.

E ouso dizer ainda mais
Adão fez o que ninguém faz,
Peladão em pleno paraíso,
Manteve-se firme no juízo,
Acordando ao lado de Eva toda manhã,
Ao sentir fome, optou por "comer" a maçã...

Nota da autora: Texto publicado na coletânea "Poesias Brasileiras-Volume II"-Premio Ebrahim Ramadan de Poesias, publicado pela Editora Riopretense no ano de 2003.


Um comentário:

João Paulo Naves Fernandes disse...

Somos nós o Adao e a Eva a provocar estes malefícios nos dias de hoje, a nós mesmos. Achamos que não somos os responsáveis pelos acontecimentos , mas os provocamos por onde passamos, como se não fosse conosco. Ter uma idéia ideal de Adão é não nos enxergarmos no Adão real.