12 de mar. de 2012

Pé de vento

Pé de vento…

(Olegário Mariano)


Ágil, violento,

De copa em copa,

Salta, galopa,

Relincha o vento.


Corcel alado,

Solta as crinas,

Desce às campinas

Desenfreado…


Transpõe barrancas,

Vales, penhascos,

Nas nuvens brancas

Imprime os cascos.



Da terra fura

Fundo as entranhas,

Na noite escura

Galga as montanhas,


Tolda os remansos,

Muda em cachoeiras

As cabeceiras

Dos rios mansos…


Arranca os galhos,

Pelos caminhos,

Deixa em frangalhos

Frondes e ninhos.


De salto em salto.

Revoluteia…

Lambe o planalto,

Dança na areia…


Na amaldiçoada

Força que o agita,

De cambulhada

Se precipita…


Pende o arvoredo

Num murmúrio:

“Meu Deus! Que medo!

Que horror! Que frio!”


Diz um arbusto:

“Por que me levas?

Tremo de susto

Dentro das trevas.”


Uma andorinha,

De asa quebrada:

“Morro sozinha,

Solta na estrada!”


Pobre tropeiro

Se desengana:

“Rolou do outeiro

Minha choupana!”


Vozes de magoas

Despedaçadas

Choram nas águas

E nas ramadas…


Uivam nas furnas

Feras aflitas,

Sob infinitas

Sombras noturnas…


E o vento nessa

Marcha selvagem,

Corta, atravessa,

Rasga a paisagem.


E segue o rumo

Do movimento,

Subindo a prumo

No firmamento,


Até que rola,

No último açoite,

Como uma bola

Dentro da noite…


Olegário Mariano Carneiro da Cunha, (PE-1889/RJ-1958)

Nenhum comentário: