14 de abr. de 2013

Rubem Alves: Os que sofrem produzem a beleza para deixar de sofrer

A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de sí um grão de areia que a faça sofrer.
http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-a-ostra-produz-a-perola

Pessoas felizes não sentem necessidade de criar. O ato criador, seja na ciência ou arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor doída. Por vezes, a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi”. (Rubem Alves, Ostra feliz não faz pérola)

“A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas.” (Rubem Alves, Ostra feliz não faz pérola)

Quando li esses textos, meu coração bateu mais forte. Já escrevi isso, de como doem os pensamentos que precisam ser escritos, pois é exatamente isso que sinto. Estou apenas começando a ler Rubem Alves, mas em algumas crônicas lidas, me senti contemplada. Alguns temas que ele pensou e escreveu, seus olhares para o mundo, são como um déjà vu. Isso me remeteu imediatamente às minhas buscas sobre a melancolia. Sentimento perturbador que me persegue desde que me entendo por gente. Esse jeito de ser sempre me fez incompreendida.. principalmente por mim.

“Há uma antiga e longa tradição de filósofos, artistas, escritores, poetas e músicos, que vê na melancolia, enquanto afeto de tristeza, um fator positivo capaz de impulsionar as produções artísticas, filosóficas, científicas, literárias e até mesmo as grandes ações políticas. Nós conhecemos a pergunta de Aristóteles no Problema XXX: “por quê afinal todos os que foram homens de exceção, figuras excepcionais, seja em filosofia, artes, poesia ou política, foram também manifestamente melancólicos?”  O Filósofo cita vários exemplos, como Heráclito, Lisandro, Ajax, Belerofonte, Empédocles, Platão e Sócrates “e muitos outros entre as pessoas ilustres, como de resto o próprio Aristóteles será citado na posteridade, como um exemplo de grande gênio melancólico.” (tese de um doutorando em filosofia na USP).

Então, sempre me sinto aliviada por encontrar algumas pistas que levam a descobrir afinidades com escritores, poetas, artistas e filósofos.. que fizeram de suas tristezas  uma arte,  saber que isso foi assunto de estudo para Aristóteles antes de Cristo (384 a.C.- 322 a.C), me faz tatear uma identidade. Não que isso me torne um deles, acho que seria arrogância assim pensar, mas me sinto integrante dessa “tribo” que transforma a dor da vida em alegria de viver. (Ada, 13/4/2013)

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