1 de jul. de 2014

Flora Figueiredo: Ilha

Ilha

Não sei por que tanto mar em minha vida.
Ele que fala sempre em despedida,
que canta distância e solidão.
Por vezes parece até que ele vaza,
derruba minha porta,
invade minha casa,
ocupa minha cama,
lava meu chão.
Ele é que faz do leva-e-traz de cada onda
o mensageiro dos afetos separados
lá no horizonte,
onde a terra se arredonda.
São tantos anos de tamanha intimidade,
que hoje carrego a forte sensação
de que o mar alterou-me a identidade:

metade água e metade coração.

Flora Figueiredo

Nenhum comentário: