Hoje levei meu cãozinho Caillou para um banho no “pet shop”. Sempre lhe dou eu mesma e em casa o seu banho semanal. Mas hoje, sabadão em que o outono deveria estrear, quebrei a rotina. Estava tão cansada da semana de trabalho que precisava andar na rua, tomar sol, respirar e dar o banho do meu cão a outra pessoa.
Saímos, eu e Caillou, em caminhada de uns vinte minutos até o pet nas bandas do Jabaquara. Dez horas da matina, voltando prá casa, enxergo um cão vira lata à la pastor alemão, deitado e ofegante no mato que ladeia a calçada. Sabem como é calçada na periferia? Cheia de lixo e mato. Pensei, foi atropelado na avenida e deitou-se ali se escondendo do malfeitor.
A intenção de relaxar neste sábado ensolarado caiu por terra.
Fui para casa levar Caillou e voltei com ração e água. Ele estava faminto, sedento e muito machucado. Mas os machucados demonstravam que estava assim há dias. Tinha berne. Prostrado ao sol que impunemente queimava-nos. Outono disse que viria hoje lá pelas quatorze horas, mas o verão não aceitou não, continuou reinando. O que farei. Terei que fazer algo. Minha consciência não permite de jeito nenhum um “deixa prá lá”, ou “tá cheio de casos assim pelo mundo”, ou “a guerra acontece na Palestina há séculos e morre tanta gente”, ou “o Haiti e o Chile estão debaixo de escombros e cadáveres”, ou existe uma tal taxa Selic e as “mulheres de branco tentam desestabilizar as coisas em Cuba”, ou as focas do Canadá e os Golfinhos do Japão e da Dinamarca, os touros na Espanha estão sendo assassinados em nome de tradições, enfim, tudo isso acontecendo eu sei, mas um animal está indefeso, doente, e precisando de ajuda. E eu vi. Passei ao lado dele. Não negarei ajuda.
Liguei imediatamente para alguns contatos de protetores de animais e depois que consegui lá vou eu ajudar na empreitada. Quero fazer um aparte aqui e dizer que existe um modo de vida desconhecido e ignorado da sociedade: o modo de vida dos protetores de animais. Eles são pessoas incríveis e dão seu salário e seu tempo aos pobres animais abandonados que sofrem humilhações, abandono e maus tratos dos humanos sem qualquer possibilidade de defesa ou escolha. À revelia de quase-zero políticas públicas da Prefeitura ou Estado, os cães e outras espécies são comercializados e se proliferam pelas ruas sem muitas chances de sobrevivência. Nas grandes cidades, assim como no mundo, vemos cenas entristecedoras para aqueles de sentimentos pouco mais à flor da pele. Não dá para descrever as cenas deste resgate e de nenhum outro. Acho que um cinegrafista faria cenas incríveis se acompanhasse o dia a dia destes protetores anônimos e voluntários. São todos uma saga, de um empenho indescritível, de um esforço recompensador.
Este foi mais um resgate difícil em que o cão machucado resiste, por medo. Ele roeu a guia e em cinco minutos fugiu, e lá vamos nós persegui-lo pelas ruas vizinhas. Mesmo cambaleante ele teve forças para andar e se esconder. Tinha muito medo. Conseguimos concluir a tarefa eram cinco e vinte da tarde! O tempo urge, as clinicas vão fechar para o fim de semana! Mas deu tempo! Só quem faz, ou fez isso um dia, sabe do que estou falando.
O cão é lindo! Um jovem descendente de pastor alemão, cheio de cortes profundos e bicheiras devorando-o vivo. Não sobreviveria mais que alguns dias nas ruas. Tive sorte de estar na calçada em que ele agonizava. Acho que contando com os meus princípios de vida e de defesa da vida, ele ficou alí à minha espera. Posso parecer "bicho esquisito" mesmo, andando na contramão, defendendo ideiais comunistas... Mas agora o cãozinho, sem eira nem beira, está salvo e em recuperação numa clínica veterinária, sedado e alimentado. Graças à Silvana que assumiu todo o resgate e tratamento.
A chuva cai lá fora.Fico pensando em todos os que ainda estão ao relento, sofrendo. Animais Humanos e não humanos. Continuo lutando pelo fim destes maus tempos. "Downturn".
Alguns vídeos durante atendimento veterinário:
video 1
vídeo 2
vídeo 3
Fotos no photobucket aqui Agradecimentos especiais à Silvana Mitne, Cris e Douglas, "os protetores" incansáveis que salvam tantos cães desta cidade. E às amigas do bairro, Elaine e Marta que sempre estão presentes nestas situações difíceis. Sem eles isso tudo teria sido impossível. A galera do bem..