Três urubus fazem parte da obra exposta na Bienal SP/2010 |
Esta obra de Nuno rendeu-lhe protestos da proteção animal, uma pixação que estragou a obra e uma fama no minimo polêmica. Afinal, usar animais para testes, diversão e arte tem sido questionado. Este questionamento pode tomar vulto e se estender para outras utilizações, inclusive na alimentação humana. Espero veementemente.
Segundo Ramos, tudo está sendo feito "dentro da legislação". Sim, e sabemos bem a quem servem estas leis. O que querem os protetores é exatamente mudá-las, em favor dos animais. E como começar esta mudança senão coibindo a prática utilitarista que temos em relação aos animais?
"É importante deixar claro que não tiramos os animais da natureza. Os urubus pertencem ao Parque dos Falcões [em Sergipe], onde vivem em cativeiro. Só tirei de uma gaiola e pus em outra 30 vezes maior", defende o autor da obra. Normal. A culpa não é do artista em primeiro lugar, antes dele alguém já o fez, e antes daquele mais um e mais outro, sempre para utilidade pública.
"Trouxe para São Paulo a mesma pessoa que trata deles lá [no Parque dos Falcões], e ele está aqui o tempo todo. O veterinário também veio com eles, ficou quatro dias para adaptação e foi embora. Mas ao menor sinal [de problema], a gente vai atuar." Quanta preocupação e cuidados, não é mesmo?
Quanto ao possível estresse que as aves possam sofrer por conta das luzes artificiais e do ruído vindo dos visitantes, da própria obra que inclui alto-falantes que tocam trechos das canções Bandeira branca, Carcará e Acalanto e de outros trabalhos sonoros instalados na Bienal, o artista diz que “os urubus não se incomodarão”. Chega a ser ridículo falar em nome dos urubus. A tal lei deveria exigir documento registrado em cartório descrevendo as emoções sentidas pelos animais!
"Eles parecem até mais calmos que os visitantes", ironiza. "A luz desliga às sete horas, e a exposição fica fechada 14 horas por dia."
Ramos lembra ainda que as aves são as mesmas que expôs em 2008, em uma instalação semelhante montada no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília. (!)
"Elas estão acostumadas com o público. Já participaram de uma exposição minha em Brasília e, segundo um tratador que ficava lá, chegaram até a acasalar dentro da obra." Me consola sobremaneira esta informação, isso vai garantir a preservação da espécie!
Em nota divulgada à imprensa, os organizadores da 29ª Bienal confirmaram que "o autor da obra possui todas as licenças exigidas pelos órgãos de preservação ambiental para o uso desses animais" e ressaltaram "que a independência curatorial e a liberdade de criação, dentro dos contornos estabelecidos pela lei, são valores fundamentais da entidade".
Se ao menos soubéssemos que recado quer passar a tal obra!
Segundo Ramos, tudo está sendo feito "dentro da legislação". Sim, e sabemos bem a quem servem estas leis. O que querem os protetores é exatamente mudá-las, em favor dos animais. E como começar esta mudança senão coibindo a prática utilitarista que temos em relação aos animais?
"É importante deixar claro que não tiramos os animais da natureza. Os urubus pertencem ao Parque dos Falcões [em Sergipe], onde vivem em cativeiro. Só tirei de uma gaiola e pus em outra 30 vezes maior", defende o autor da obra. Normal. A culpa não é do artista em primeiro lugar, antes dele alguém já o fez, e antes daquele mais um e mais outro, sempre para utilidade pública.
"Trouxe para São Paulo a mesma pessoa que trata deles lá [no Parque dos Falcões], e ele está aqui o tempo todo. O veterinário também veio com eles, ficou quatro dias para adaptação e foi embora. Mas ao menor sinal [de problema], a gente vai atuar." Quanta preocupação e cuidados, não é mesmo?
Quanto ao possível estresse que as aves possam sofrer por conta das luzes artificiais e do ruído vindo dos visitantes, da própria obra que inclui alto-falantes que tocam trechos das canções Bandeira branca, Carcará e Acalanto e de outros trabalhos sonoros instalados na Bienal, o artista diz que “os urubus não se incomodarão”. Chega a ser ridículo falar em nome dos urubus. A tal lei deveria exigir documento registrado em cartório descrevendo as emoções sentidas pelos animais!
"Eles parecem até mais calmos que os visitantes", ironiza. "A luz desliga às sete horas, e a exposição fica fechada 14 horas por dia."
Ramos lembra ainda que as aves são as mesmas que expôs em 2008, em uma instalação semelhante montada no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília. (!)
"Elas estão acostumadas com o público. Já participaram de uma exposição minha em Brasília e, segundo um tratador que ficava lá, chegaram até a acasalar dentro da obra." Me consola sobremaneira esta informação, isso vai garantir a preservação da espécie!
Em nota divulgada à imprensa, os organizadores da 29ª Bienal confirmaram que "o autor da obra possui todas as licenças exigidas pelos órgãos de preservação ambiental para o uso desses animais" e ressaltaram "que a independência curatorial e a liberdade de criação, dentro dos contornos estabelecidos pela lei, são valores fundamentais da entidade".
Se ao menos soubéssemos que recado quer passar a tal obra!
O crítico de arte diz sobre a obra de Nuno Ramos:
"Ser artista de vanguarda, ainda que de vanguarda em crise, significa, em primeiro lugar, acreditar no conteúdo da verdade da arte. Isto é, acreditar que a arte expressa algo de essencialmente verdadeiro que não pode ser alcançado por outros caminhos. Em segundo lugar, significa acreditar que esse algo, uma vez revelado, possa mudar a relação entre as pessoas e as coisas. A arte de Nuno nos diz que as coisas não falam. Da fenda entre as coisas e os significados, suas obras brotam como uma erupção vulcânica. Expõem o lado amorfo, magmático do mundo - sua face escondida. É significativo o uso que esses trabalhos fazem do orgânico. Que a obra se assemelhe a um organismo é, tradicionalmente, a garantia de uma mediação entre nós e os objetos inanimados. Injetando vida nas pedras e nos pigmentos, a arte testemunha que um contato com o mundo é possível. As obras de Nuno também têm vida, mas é uma vida completamente alheia. Instalam-se entre nós e o mundo, e se desenvolvem segundo uma lógica própria, que não podemos mais controlar. São seres, mas não se parecem conosco. No entanto, sem essa estranheza radical, seríamos projetados no vazio pela força centrífuga de uma produção de informações sempre mais acelerada e sempre mais inconsistente. O silêncio da matéria morta, desespiritualizada, nos mantém em órbita. Cabe a nós preservá-lo. " (Lorenzo Mammi)
Vista-se de urubu e durma com este barulho!
Um comentário:
Querida Eliana,
Li seu comentário lá no Vida Breve, muito obrigada!Se puder voltar lá mais vezes, todo sábado entra um texto novo.
Quanto à obra do Nuno Ramos, aquilo é simplesmente revoltante. Se não é crime manter os animais expostos ali, a falha está na lei. O nível de permissividade na arte há muito tempo atingiu a impostura. Espero que os urubus sejam logo libertados...
Beijo grande,
Mariana
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