26 de jul. de 2011

Candido Portinari: dá orgulho de ser brasileiro

Queria contar a história do significativo Mural  Guerra e Paz de Candido Portinari, que está no Brasil até 2013. Daí comecei uma pesquisa que me levou a outra, e outra, e mais outra, e há tanta coisa a se falar sobre a vida e a obra dele que não teve fim a minha busca. Só sei que, conhecendo-o um tiquinho mais, senti orgulho de ser brasileira. E também em ser comunista. Fiz esse apanhado que precedeu Guerra e Paz mas que servirá de curriculo do autor aqui no Blog e espero que você aproveite, como eu aproveitei. Mas veja bem, aguarde que falarei em breve sobre seu Mural Guerra e Paz, importante contribuição do Brasil à ONU em 1956. E se quiser ampliar conhecimentos, há um Projeto Portinari  que merece nossa atenção.

Candido Portinari, pintor (1903-1962)

“Vim da terra vermelha e do cafezal.
As almas penadas, os brejos e as matas virgens
Acompanham-me como o espantalho,
Que é o meu auto-retrato.
Todas as coisas frágeis e pobres
Se parecem comigo.”

Auto-Retrato (1957)
Óleo s/ madeira, 55 x 46 cm
Col. Particular, Brasil

Linha do Tempo

1903: Nasce em Brodowski, São Paulo, Brasil.

Filho de imigrantes italianos Portinari nem sequer chegou a completar o ensino primário. Mas seu dom artístico já aflorava na infância.

1912: Colabora na pintura da Igreja de Brodósqui.

1914 - Cria sua primeira gravura, um retrato do compositor Carlos Gomes, em carvão, copiando a imagem de uma carteira de cigarros;

1918: Vai para o Rio de Janeiro para estudar pintura.

1921: É admitido no curso de pintura da Escola de Belas Artes.

1922: Expõe o 1º quadro.

1923 - Pinta "Baile na Roça", sua primeira tela de temática nacional. O quadro é recusado pelo salão oficial da Escola de Belas Artes, por fugir dos padrões acadêmicos da época;

1929 - Como prêmio do Salão Nacional de Belas Artes, que obteve com um retrato do amigo (poeta) Olegário Mariano, ganha uma bolsa de estudos em Paris. Ali, descobre Chagall, os muralistas mexicanos e sofre fortes influências do trabalho de Picasso;

1930: Casa com Maria Martinelli na França e em 31 volta ao Brasil.

1935: O óleo "Café" obtém a Segunda menção honrosa, em Nova Iorque.

1936: Pinta os primeiros murais. É nomeado professor de pintura.

1937: Inicia os murais do Ministério de Educação.

1938: O Museu de Arte Moderna de Nova Iorque compra o quadro "Morro".

1939: Nasce seu filho, João Cândido.

1940: Expõe nos Estados Unidos.

1944: A convite do arquiteto Oscar Niemeyer, inicia as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, destacando-se o mural "Sâo Francisco" e a "Via Sacra", na Igreja da Pampulha.

1945: Conclui os murais do Ministério da Educação. Candidata-se a deputado federal pelo PCB Partido Comunista do Brasil. Portinari perde seu grande amigo Mário de Andrade. Faz uma "Via Sacra" para a capela da Pampulha. Filia-se ao Partido Comunista vendo na organização, mesmo clandestina, a chance de lutar contra a ditadura, a favor da anistia e de eleições. Nomes de grande prestígio junto à sociedade reúnem-se nesse partido. Candidato a deputado federal por São Paulo, Portinari perde as eleições. O PCB consegue eleger um senador (Luiz Carlos Prestes) e 14 deputados.

1946: Expõe em Paris.

1947: Candidata-se a senador. Expõe em Buenos Aires e Montevideo. PCB entra na ilegalidade.

1948: Portinari exila-se no Uruguai, por motivos políticos, onde pinta o painel "A Primeira Missa no Brasil", encomendado pelo banco Boavista do Brasil.

1949: Executa o grande painel "Tiradentes", narrando episódios do julgamento e execução do herói brasileiro que lutou contra o domínio colonial português. Por este trabalho Portinari recebeu, em 1950, a medalha de ouro concedida pelo Juri do Prêmio Internacional da Paz, reunido em Varsóvia.

1950: Visita a Itália. Participa na Bienal de Veneza.

1952: O Governo Brasileiro convida-o para realizar os murais Guerra e Paz para a sede da ONU.

1954: Sofre uma hemorragia, motivada pela intoxicação das tintas.

1955: Faz ilustrações para a obra "A Selva" do escritor Ferreira de Castro.

1956: Viaja a Israel e Itália.

1960: Nasceu sua neta Denise, que passou a ocupar boa parte de seu tempo. Pintou muitos quadros com o retrato dela. Quando não estava com Denise, Portinari passava horas fitando o mar, sozinho. No ano seguinte escreveu um ensaio de oração para a neta.

1962: Morre, vitima do envenenamento das tintas. Enquanto pinta os painéis Guerra e Paz, Portinari adoece gravemente. O diagnóstico não é nada agradável. A doença não é mais do que o envenenamento que as tintas lhe provocam. Deve parar de pintar. Coisa impossível para quem a pintura é a vida. Aliás, ela tem sido a sua grande preocupação, agora que a arte parece estar a tomar outro caminho que não agrada a Portinari, como o tem dito nas entrevistas que dá:

“A pintura, que era antes o maior veículo de propaganda de ideias, hoje precisa de uma propaganda enorme para viver. Antes ela servia a religião e o estado, hoje não serve ninguém. Outros meios mais directos e efectivos a substituíram, tais como o cinema, a televisão, o rádio, o jornal... Resistirá a pintura como meio de expressão e como profissão?”
Casa onde viveu Portinari, em Brodowski.
Hoje "Museu Casa de Portinari"
Em frente ao Museu Casa de Portinari localiza-se a praça Candido Portinari,
onde se encontra a Igreja Santo Antônio, para a qual Portinari
fez uma pintura a óleo sobre tela
do santo padroeiro, em cumprimento a uma promessa
para restabelecimento da saúde de seu filho João Candido.
Santo Antônio é uma rara pintura sobre tela do artista (1942)
e estava sofrendo com cupins e infiltrações

A obra de Santo Antonio é restaurada em 2003
Fotobiografia
Imagens de Portinari

+ Portinari

2 comentários:

Osvaldo Bertolino disse...

Candido Portinari era natural de Brodowski, cidade próxima a Ribeirão Preto, e estava em compromissos profissionais na França quando Pedro Pomar e Prestes iniciaram o périplo pelo interior paulista. Chegou dia 26 de dezembro de 1946, pegou a caravana andando e fez sucesso por onde passou. Arruda diz que ele fazia comícios formidáveis, admiráveis.

“Ele contava muita história da vida dele, história de quando ele era filho de sitiantes lá em Brodowski. E também histórias outras. Ele gostava de contar muitas histórias engraçadas. E no interior de São Paulo se gostava muito daquela maneira caipira que ele falava. Eu me recordo que participando de um comício com Portinari, ele contava uma história interessante. Quando ele estava fazendo os murais do Ministério da Educação, que são os chamados ciclos da história do Brasil, o Capanema, que era ministro da Educação, disse: Portinari, está faltando aqui um quadro. Ele disse: Qual é o quadro? Era botar Caxias como o pacificador do Brasil, o patrono do Exército. Porque senão aqueles murais seriam considerados subversivos. Não é possível — você faça essa concessão.

E o Portinari ficou bravo, não quis mais continuar a fazer os murais etc. Então, por muita solicitação, muitos pedidos de Capanema, Portinari aquiesceu em fazer o retrato de Caxias. Não um quadro. E de vez em quando o Capanema ia acompanhar a feitura dos murais. Um dia Capanema pergunta ao Portinari se ele já havia pintado o retrato de Caxias. Ele disse: Perfeitamente, pode vir olhar. O Capanema começou a olhar o mural sobre o pau-brasil, o mural sobre a era do ouro, depois o mural sobre a mineração, sobre o açúcar, o café, a pecuária também etc. E o Capanema vai olhando, vai olhando... volta e diz: Mas não está — não vejo o retrato de Caxias. Ele diz: É porque você não olhou direito. Volte a olhar os quadros. Aí, dizia o Portinari, o Capanema voltou e disse: Mas eu não vejo o Caxias. Onde é que você botou o Caxias?

Ele o chamou para frente do mural que era a pecuária e disse: Olha aqui nesse mural que você vê o retrato de Caxias. Ele disse: Mas eu não vejo, Portinari! Ele disse: Você não vê? Olhe para esta bosta de boi que ela tem a cara do Caxias (risos). Estava a cara de Caxias ali numa bosta de boi (risos). Então o Capanema disse: Não faça isso, Portinari! (rindo) Nós vamos todos para a cadeia! Ele disse: Bem, se você não quer o Caxias como essa bosta de boi eu apago o negócio e fica o dito pelo não dito (risos). E assim ele contava... e o pessoal ria (rindo), dava gargalhadas, batia palmas no interior de São Paulo. E assim (gargalhadas)... era maravilhoso!

Coisas de Ada disse...

Maravilhoso Osvaldo! Não foi o que pensei? Essa história não achei, mas você deu grande contribuição para mais um episódio! Beijos