Pois é. Casinha térrea com telhas de barro, telhado não muito novo será certo alguma goteira, um quintal pequenino mas é o universo numa casca de noz, o sol invade em retalhos sombreados pelas nuvens, ou não, o suficiente para dar cálcio aos nossos ossos e iluminar nossa janela, e suficiente para ver a Lua e as estrelas, receber sobrevôos de passarinhos e maritacas aos berros todas a manhãs e secar as roupas no varal.
Fica relativamente perto do Rio Tietê, o pobre Rio aviltado, e ali pertinho tem o Parque Ecológico do Tietê, que ainda não tive o prazer de curtir. As ruas do bairro são planas, cobertas com blocos, melhor que asfalto pois não fica escaldante e alguma grama nasce implorando em seus vãos. Comprar bicicleta está na listinha da vida que se pretende nova. A maioria das casas são térreas, todo mundo se dá bom dia. Na sexta-feira tem feira e a banca de flores fica quase na minha porta. Apesar de achá-la cara, me serve de frutas frescas praticamente “sem sair de casa”. O caminhão passa lavando tudo depois. Nunca se ouviu falar em assalto, mas as casas todas têm suas grades por tradição. Estou colocando uma também. É um bairro de periferia, fronteira com São Paulo, com o “fim” de São Paulo, abandonado pelos governos, sabe-se.
Agora, lá em casa, passamos por algumas dificuldades de
adaptação e a tranqüilidade abalada, porque os vizinhos dos dois lados estão
reformando e reconstruindo paredes. Tem
um pó invadindo-nos, e não é o de pirlim-pim-pim. A mangueira de água (nossa! isso existe!) ligada todos
os dias, é diversão na certa! E ainda dizem as más línguas que gatos não gostam
de água. A minha gangue de seis gatos - de lambuja um cachorro que pensa que é gato - corre para festejar, beber e pular o “rio” que deságua no ralo, para depois
bater as patinhas em tremeliques frenéticos e ficar um tempão lambendo-as para secar. A-do-ram água corrente, só para contrariar o dito popular.
A casinha recebe alguns pernilongos e mosquitos. Andei
colocando na tomada um repelente que emite ruído supersônico. A gente imagina
ser ensurdecedor para os insetos... mesmo assim, alguns passam pela barreira e
me vejo caçando, junto com os gatos. Anuncio com voz de alerta “bicho!” e todos
vêm me ajudar. Minha amiga Sandra me presenteou com velas de andiroba, comercializadas em sua loja Germinar.
As plantinhas ganharam sua liberdade. Nem sei como elas
cabiam na varanda de metro quadrado sombreada do apartamento. Parece que
dobraram de tamanho! A primavera está lotada de botões e prometo mostrar suas
fotos assim que se abrirem em púrpura. A pimenteira reviveu suas pimentas brancas e as violetas estão
brotando na janela da cozinha.
Gente, estamos curtindo a casinha sim, lembra casinha de
interior, e foi necessária essa mudança drástica de hábitos por diversos
motivos que um dia te conto. Passei a andar de ônibus e metro, (que é quase uma tragédia) mas sou vizinha
de minha mãe e durmo num silêncio delicioso, uma grande aspiração além do
quintal.
Dias melhores ainda estão por vir.
PS.: continuo devendo as fotos.
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