31 de mai. de 2012

Ingrid Jonker: A criança que foi morta a tiros por soldados em Nyanga


Minha amiga do peito, Maria Helena Malê, tradutora e intérprete, fez a grande gentileza de traduzir o célebre poema de Ingrid Jonker que Nelson Mandela leu, quando então presidente na abertura do parlamento na África do Sul, em 1994. Foi presente para coisasdeada e é a melhor, talvez única, tradução que já li!

Foto de evaldojose.com.br da criança africana que se chama Narrina.
A criança que foi morta a tiros por soldados em Nyanga

(Ingrid Jonker)

Tradução livre de Maria Helena D´Eugênio

A criança não está morta!
Ela levanta os punhos junto à sua mãe.
Quem grita África ! brada o anseio da liberdade e da estepe,
dos corações entre cordões de isolamento.
A criança levanta os punhos junto ao seu pai.
Na marcha das gerações.
Quem grita África! brada o anseio da justiça e do sangue,
nas ruas, com o orgulho em prontidão para luta.
A criança não está morta!
Não em Langa, nem em Nyanga
Não em Orlando, nem em Sharpeville
Nem na delegacia de polícia em Filipos,
Onde jaz com uma bala no cérebro.
A criança é a sombra escura dos soldados
em prontidão com fuzis sarracenos e cassetetes
A criança está presente em todas as assembleias e tribunais
Surge aos pares, nas janelas das casas e nos corações das mães
Aquela criança, que só queria brincar sob o sol de Nyanga, está em toda parte!
Tornou-se um homem que marcha por toda a África
O filho crescido, um gigante que atravessa o mundo
Sem dar um só passo.
***
The child who was shot dead by soldiers at Nyanga (Ingrid Jonker)
(Tradução para o inglês do original em Africâner)


The child is not dead

The child lifts his fists against his mother
Who shouts Afrika ! shouts the breath
Of freedom and the veld
In the locations of the cordoned heart
The child lifts his fists against his father
in the march of the generations
who shouts Afrika ! shout the breath
of righteousness and blood
in the streets of his embattled pride
The child is not dead
not at Langa nor at Nyanga
not at Orlando nor at Sharpeville
nor at the police station at Philippi
where he lies with a bullet through his brain
The child is the dark shadow of the soldiers
on guard with rifles Saracens and batons
the child is present at all assemblies and law-givings
the child peers through the windows of houses and into the hearts of mothers
this child who just wanted to play in the sun at Nyanga is everywhere
the child grown to a man treks through all Africa
the child grown into a giant journeys through the whole world
Without a pass.


6 comentários:

Anônimo disse...

Vi o filme ~Borboletas Negras~ e achei a obra de Ingrid uma maravilha.
Uma mulher alem do seu tempo!

Coisas de Ada disse...

Fantásticas mulheres pelo mundo, desconhecidas, oprimidas....Todas talentosas! Um dia o mundo será livre! E as mulheres viverão

Unknown disse...

o último verso, "without a pass", na verdade significa sem "passe" ou salvo conduto.isto é, sem necessidade de autorização (dos brancos) para circular

Marcia disse...

Reitero a tradução da última frase: "sem salvo conduto". Não "sem dar um passo". Foi um poema de protesto contra a segregação racial.

Marcia disse...

Reitero a correção do último verso:"sem salvo conduto". Poema de protesto contra a segregação racial na África do Sul.

Ramos Sobrinho disse...

Doloroso....