_ A casa é nossa, temos que
conservá-la! Vamos consertar isso! Disse eu.
Pensei em oferecer ajuda
financeira para realizar os consertos. Ficou apenas em pensamento. Desisti de
oferecer ajuda, um sentimento de não reconhecimento me tirava o ímpeto de
generosidade que sempre transbordava.
Parecia que ninguém me ouvia,
não prestavam atenção, ou então, o que dizia não era importante, significativo.
Todos davam as costas, ocupados com alguma coisa: uma era minha mãe e outras
pessoas que não reconheci.
No quarto haviam três camas, arrumadas
com lençóis brancos, dispostas em ângulos uma em cada parede. Havia limpeza, apesar da simplicidade.
Precisávamos encontrar espaço para mais uma cama, a do irmão. Debaixo da escada
parecia perfeito, havia um corredor espaçoso e cabia bem mais uma cama. E ali
foi colocada, com a concordância do irmão. Quebrou-se apenas uma mureta que
impedia o perfeito encaixe da cama, e pronto.
Na cozinha, a avó pendurava
as panelas em pregos esparsos pelas paredes mal pintadas, que lembravam um tom
de azul desbotado, descascado. Não havia armários e isso me comovia, pensei em quanta
humildade havia naquela casa, toda simples, mal arrumada. A avó, enxugando as panelas, sorria
e dava de ombros. Não era o seu rosto, usava óculos? Mal penteada? Mas sabia que era ela, com avental enxugando e
pendurando os caldeirões de alumínio nos pregos.
Subitamente olhou para mim e
sorriu. Parecia feliz, tentando me sossegar. Disse para não me importar com essas coisas, sacudiu
um pouco os ombros tentando demover-me da preocupação com a casa, uma espécie
de “deixa prá lá” ou “isso não é importante”, e que não tinha problema a casa ser
assim toda quebrada, mal arrumada.
Ela se foi cozinha adentro e fiquei só, refletindo. Acho que foi aí que acordei. A sensação de que foi real, ficou
intensa o dia todo. (Ada, 11/9/13)
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